quinta-feira, agosto 31, 2006

Estoicismo

Preferia que me tivesses dado um tiro no ombro,
ao invés de proferires aquelas palavras
Um tiro no ombro,feri-lo, tirar-lhe a utilidade.
teria sido menos doloroso, e o ombro assim,
já não poderia ser mais o teu ombro
onde ainda podes vir soluçar.
melhor ainda, já não poderia ser mais
o ombro de ninguém,
onde mais nenhuma lágrima poderia voltar a escorrer.


Preferia um tiro no ombro,
um disparo imobilizante e redentor
certeiro e íntegro e heróico e sincero.
Do que as palavras que não te sairam fulminates
mas que se ecoaram vãs, sem ecos de ti.

Ainda sacudo o asco de tudo isto
por cima do meu ombro,
queria não o poder fazer.
Queria não lhe poder tocar
e deixar o asco de tudo isto
confecionar pús na ferida aberta
pela bala que insistes em não disparar.

Dispara! Seria um barbitúrico parcial,
um abate necessário,assim como o pastor
que abate a ovelha ferida
pela mandíbula das circunstancias
o moribundo animal, também ele sabe
que dói mais a quem prime o gatilho
do que a quem recebe
a bala caridosa.
È heróico!

sexta-feira, agosto 25, 2006

Foi por causa do fumo?

Invoquei-te outra graça,
que não a tua
no derradeiro instante,
na flanela áspera em que te contorcias,
estranhaste ter-te trocado a graça
olha a graça, condescendente, disfarçaste
não sei bem se a troca ou também a contração.
Foi só um nobre engano,
o corpo, essa era o teu.

Mas o que te confundi eu?
o corpo e fluídos?
restícios de outra, que por ali me pairavam...
Acendi um cigarro. Saiste.

quinta-feira, agosto 24, 2006

plasticidade dos sentidos

Plasticidade dos sentidos,
assim como um músculo que enrrigece ou flacida,
existe?
Eu quero ver, ouvir, sentir, degostar,cheirar,
na extrema presunção de que o que eu sinto existe.
ou
ficar absorto no eu
sem sentir os sentidos,sem sentir o sentir.
Em vácuo de mim.

Rasto

Como se já não bastasse, as coisas perduram num tempo insopurtável de luto
que se quer escuro, cinzento e taciturno.
e perduram os rasgos da tua presença colorida
que se recusam a ficar lá atrás, naquele tempo certo aonde pertencem
não ficando, arrastam-se coloridamente até ao meu luto,
que deveria ser escuro, cinzento e taciturno.
importas-te de ficar lá, num outro tempo, sem arrastares o outro aspectro para este?

Esta sinestesia enlouquece-me,
ouço-te caminhar em tons rápidos que perseguem o meu presente.
Olho-te ruidosa e invisivel,constante.